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Antônio Batista Pinto Zulu, também conhecido como "Mestre Zulu". Um dos maiores Mestres de Capoeira do Brasil! Mineiro de Unaí, nascido em 09/05/1946. Professor aposentado da Secretaria de Educação do Distrito Federal; Professor aposentado do Ministério da Educação; Químico; Pós-graduado em Didática e em Metodologia do Ensino Superior; Autodidata e Mestre de Capoeira; Introdutor da Capoeira na Rede Oficial de Ensino do DF; Fundador do Grupo de Capoeira Beribazu e do Centro Ideário de Capoeira; Formulador do Ideário Arte-Luta; Cidadão Honorário de Brasília; Medalha e Título de Amigo da Marinha do Brasil.

 

No ano de 1970, na Sociedade Desportiva Sobradinhense, começou ensinar capoeira àqueles que tornaram-se seus companheiros de treinamentos e ali permaneceu até o final do ano de 1971. Em 11 de agosto de 1972 começou a ensinar capoeira no Colégio Agrícola de Brasília, e delinear a formulação do Ideário Arte-Luta, o qual é constituído de idéias, concepções, princípios, processos, valores e estudos os quais fundamentam as atividades e ações de ensino-aprendizagem e de prática de capoeira.

 

Entre agosto de 1972 e agosto de 1977, Mestre Zulu e seus discípulos do Colégio Agrícola de Brasília delinearam o que seria o Ideário Arte-Luta e como seria o seu uso cotidiano, o qual passa, sempre que necessário, por ajustes e aperfeiçoamentos. Em linhas gerais esculpiram as bases do Ideário de Capoeira da seguinte forma: optaram pela postura pedagógica multidisciplinar; por uma proposta de ensino que enfatiza o aprendizado da capoeira por vivências nas preparações física, técnica, tática, psicológica, ideomotora e invisível, ainda mais, operacionalmente recorreram à oralidade informal, recomendaram leituras e composições, e buscaram realizar ou participar de discussões dirigidas, palestras, seminários, congressos, e festivais de capoeira. Definiu assim, o universo de abrangência do Ideário Arte-Luta por meio de princípios de tratamento; descartando a idéia de resgate da pureza, da autenticidade, da tradição ou da gestualidade primitiva; buscando resgatar seletivamente as características e valores da capoeira, redimensionando-a sob a perspectiva do binômino arte-luta, temporalmente dinâmica e espacialmente fluente; fundamentando filosoficamente o sistema de graduações de capoeira baseado na vivência e na cultura do negro africano e de seus descendentes no Brasil; optando pelo meio escolar como principal contexto para respaldar a capoeira perante a sociedade e o poder público.

 

No período citado, Zulu e seus discípulos redimensionaram a capoeira articulando ciência, vivência e experiência na formulação de: segmentos solitários de jogos; segmentos duplos de jogos; formas de jogos; modalidades de competições; temas de jogos. Estabelecendo a distinção entre apresentação e demonstração de capoeira; e ainda idealizaram a Grande Roda Brasileira de Capoeira (GRBC).

 

A Grande Roda Brasileira de Capoeira

Um dos maiores eventos capoeirísticos já realizados no Brasil e no mundo. Agrupava capoeiristas de todo o País! Foi realizada de 1976 a 1994 (19 anos consecutivos), a qual congregou as várias tendências da capoeira e permeou os meios: educacional, cultural, esportivo, acadêmico, artístico e político. Foi Realizada anualmente no Distrito Federal-DF, em várias escolas e espaços públicos, tais como: Colégio Agrícola de Brasília - CAB, Ascad, Caseb, Ceub e no Ginásio Cláudio Coutinho, entre outros. No ano de 1976, foi realizada a Iª Grande Roda Brasileira de Capoeira no Colégio Agrícola de Brasília (CAB). Contou com a participação de diversas Unidades da Federação. O evento foi marcado pelas competições de capoeira: Combate; exibição de duplas e Tríades; estilo individual; Festival de Cantigas; Debates e Palestras com estudiosos, mestres e convidados. Dentre os seus principais objetivos podemos destacar: a) Desenvolver o Intercâmbio social e desportivo entre os capoeiristas de todo território nacional. b) Fomentar o aprimoramento técnico-desportivo da modalidade. c) Firmar a capoeira como meio eficiente para superação do indivíduo dentro do processo educacional. d) Sensibilizar o Poder Público, as Federações e a Confederação para a acuidade de uma política digna e racional para a capoeira. A Grande Roda, tornou-se um evento disseminador das várias facetas da capoeira, pois era aberto, eclético e democrático.

 

O Grupo de Capoeira Beribazu

Mestre Zulu é o fundador do Grupo de Capoeira Beribazu, cujo inicio se deu no dia 11 de agosto de 1972, no Colégio Agrícola de Brasília, em Planaltina-DF. O Grupo Beribazu constitui-se numa instituição organizada historicamente e inserida no contexto social com uma sistemática administrativa e operacional. Os integrantes do Grupo Beribazu tem um vínculo definido com os princípios que regem suas ações. É uma instituição forte, maior até que a soma de todos os seus integrantes juntos. Em sua trajetória histórica, o Grupo sempre esteve vinculado as instituições escolares, mantendo com elas um estreita relação de ensino-aprendizagem. O Grupo Beribazu procura elaborar uma síntese que busca a superação da dicotomia Capoeira Angola/Capoeira Regional, procurando difundir a capoeira da forma mais abrangente possível, através de resgate crítico dos seus valores histórico-culturais, sendo regido juridicamente por um estatuto que define seus objetivos e orienta suas ações. No dia 29 de junho de 1994 foi criado e organizado o Conselho de Mestres do Grupo Beribazu para exercer sua direção. Atualmente existem representações do Grupo Beribazu em vários estados do Brasil e no Exterior.

 

O Sistema Beribazu de Graduações segue a fundamentação elaborada por Mestre Zulu, a partir da relação de fases sociais que marcaram a vida do negro no Brasil com os domínios de irradiação dos Orixás do Candomblé e da Umbanda. A relação é de conotação meramente filosófica, portanto, desvinculada de qualquer indução ou orientação para alguma prática religiosa. As cores fundamentais das cordas do Sistema de Graduação do Grupo de Capoeira Beribazu são: Azul, Marrom, Verde, Amarela, Roxa, Vermelha e Branca. As graduações de duas cores representam uma fase de transição e preparação para a fase seguinte de cor pura. Esquema de Graduação Beribazu. Conforme abaixo:

 

Fundamentação de acordo com as fases sociais vividas pelo negro e as linhas de Orixás

  • Cor da Corda: Azul e Azul-Marrom

Categoria: Aluno

Fase Social do Negro: Fase do Negro Cativo. Representa o período compreendido entre o aprisionamento do negro na África, o seu transporte pelo mar e sua venda em terras brasileiras. Domínio de Irradiação do Orixá: O Orixá que tem domínio de irradiação sobre o mar e suas areias é Iemanjá. Relação Metafísica: As viagens dos negros eram verdadeiros martírios em alto-mar, lemanjá tem domínio de irradiação sobre o mar. Assim, os negros cativos estavam sob a proteção da rainha do mar. Cor representativa de lemanjá: AZUL.

 

  • Cor da Corda: Marrom e Marrom-Verde

Categoria: Aluno

Fase Social do Negro: Fase do Negro Escravo. Representa a fase em que o negro começa a prestar trabalho escravo nas lavouras, perdendo assim a sua liberdade pela exploração de sua força de trabalho por um "senhor" - seu dono absoluto que aniquilava todas as suas esperanças de liberdade para o corpo e para a alma. Domínio de Irradiação do Orixá: O Orixá Xangô representa o grande guardião do céu e da terra e seu domínio de irradiação está nos raios, no trovão e no fogo. Relação Metafísica: Desterrar o negro de seu torrão natal significou a perda total da liberdade. Estando o negro fora do âmbito da terra e do céu da África, Xangô não o acolheria. Cor representativa de Xangô: MARROM.

 

  • Cor da Corda:Verde e Verde-Amarela

Categoria: Aluno e Estagiário

Fase Social do Negro: Fase do Negro Quilombola. Representa a alternativa de rebeldia preferida pelos escravos para conquistarem a liberdade. Os quilombos eram comunidades independentes, cada qual com sua importância e com as suas peculiaridades. Domínio de Irradiação do Orixá: O Orixá que tem irradiação sobre as matas, onde ficavam os quilombos é Oxossi. Relação Metafísica: Os quilombos eram comunidades muito dinâmicas, de grande riqueza sócio-cultural. O quilombola tinha nas matas o seu ambiente, a sua moradia. O Orixá Oxossi tem relação direta com as matas. Cor representativa de Oxossi: VERDE

 

  • Cor da Corda: Amarela e Amarelo-Roxa

Categoria: Monitor e Instrutor

Fase Social do Negro: Fase do Negro Capitão de Areia. Representa a fase decorrente da promulgação da Lei do Ventre Livre em 1871, em que as crianças nasciam livres como as águas doces, mas caiam na delinqüência como as águas de cachoeira, por não terem condições de se manterem plenamente livres. Domínio de Irradiação do Orixá: O Orixá que tem domínio de irradiação sobre os rios e cachoeiras é Oxum, detentora de grande beleza e filha mimada de Oxalá. Relação Metafísica: A Lei do Ventre Livre representa um aspecto dúbio,, em que a criança nascia livre como as águas doces nas nascentes e caia na delinqüência e na marginalidade como as águas em queda numa cachoeira. Oxum tem domínio de irradiação sobre os rios e cachoeiras. Cor representativa de Oxum: AMARELA

 

  • Cor da Corda: Roxa

Categoria: Contramestre

Fase Social do Negro: Fase do Negro Sexagenário. Representa a fase advinda com a vigência da Lei dos Sexagenários que, a primeira vista, apresentava-se como uma generosa concessão. No entanto, faltava ao escravo sexagenário, condições de vida para exercer uma atividade lucrativa capaz de promover a sua manutenção. Assim. Conheceu a liberdade como a dos ventos e também o desafio da sobrevivência como que uma tempestade. Domínio de Irradiação do Orixá: O Orixá que tem domínio de irradiação sobre os ventos e tempestades é Iansã, uma altiva guerreira que enfrenta destemidamente o perigo. Relação Metafísica: A Lei dos Sexagenários promoveu uma dualidade na vida do negro: a liberdade tão almejada e o desafio da sobrevivência na velhice. A liberdade sem berço é representada pelos ventos de origem incerta; o desafio da sobrevivência é representado pelas tempestades. Cor representativa de Iansã: ROXA

 

  • Cor da Corda: Vermelha

Categoria: Mestre Edificador

Fase Social do Negro: Fase do Negro Liberto. Representa a fase advinda com a vigência da Lei Áurea, de 13 de maio de 1888. A sociedade da época via o negro liberto como ignorante, preguiçoso e desordeiro e o marginalizava. Este, por sua vez, na busca pela sobrevivência, notabilizou-se como guerreiro, participando de maltas e empreitadas como capanga. Domínio de Irradiação do Orixá: O Orixá que tem domínio de irradiação sobre as guerras, os desastres e os conflitos em geral é Ogum. Relação Metafísica: As rivalidades entre as maltas de capoeira eram seriíssimas e os confrontos eram sempre sangrentos. A polícia era o terror dos escravos libertos. A atitude guerreira do negro libertado se ajusta no domínio de irradiação de Ogum. Cor representativa de Ogum: VERMELHA

 

  • Cor da Corda: Branca

Categoria: Mestre Dignificador

Fase Social do Negro: Fase do Negro Cidadão. Representa a fase em que o negro consegue reconhecer-se criticamente a partir de sua inserção na sociedade e torna-se consciente de seus direitos universais de cidadania. A partir daí aprende a ser universal. Domínio de Irradiação do Orixá: O Orixá que tem domínio sobre todo o universo é Oxalá. É a divindade da criação, da pureza e da paz. É o chefe supremo e pai de quase todas as divindades. Relação Metafísica: Com a veiculação secular de imagens estereotipadas do negro, formou-se um racismo dissimulado. O seu combate exige o envolvimento consciente de todos os segmentos sociais na busca de uma cidadania plena para todos. O exercício da cidadania plena esta associada à universalidade de irradiações de Oxalá. Cor representativa de Oxalá: BRANCA

Capoeira na Rede Oficial de Ensino

 

Zulu é o principal Introdutor da capoeira na Rede Oficial de Ensino do Distrito Federal, desde o ano de 1982, o referido projeto é coordenado pela Fundação Educacional do Distrito Federal (FEDF). Tudo começou ainda de maneira informal no Colégio Agrícola de Brasília, aonde o Mestre, era professor. O projeto ganhou consistência, pois Zulu buscou com muita dedicação e trabalho novas alternativas para ampliar e sedimentar a idéia da capoeira nas Escolas Públicas do Distrito Federal. História da Luta: No ano de 1979, a Secretária de Educação do DF (Eurides Brito), em visita ao Colégio Agícola de Brasília, assistiu uma apresentação e ficou vislumbrada com a riqueza de nossa capoeira. Mestre Zulu expôs suas idéias e a Secretária prometeu empenhar-se para implantação da capoeira na Fundação Educacional do DF. No ano de 1981, Mestre Zulu e o Dr. Inezil Pena Marinho apresentaram à Secretaria de Educação do Distrito Federal, um projeto Integrado de Capoeira e "Ginástica Brasileira". Depois de vários anos de tramitação o referido projeto foi aprovado, ainda de forma experimental, com Sede provisória no Colégio Agrícola. No ano de 1986, Mestre Zulu, apresentou um novo projeto a FEDF, intitulado "Prospectiva Construtivista de Capoeira", com o objetivo de expandir o ensino de capoeira na Rede Oficial de Ensino do Distrito Federal, tendo por base as seguintes metas:  a) Implementação dos Centros de Aprendizagem de Capoeira (CAC´s);  b) Instrumentalização de professores de Educação Física através de cursos e reciclagens;  c). Instrumentalização de docentes de Capoeira através de cursos e reciclagens.

 

No ano de 1987, Mestre Zulu, apresentou novo projeto chamado de "Curriculos e Programas" que tinha como objetivos: a) A capoeira em Nível Fundamental.;  b) A capoeira em Nível de Treinamento Básico;  c) A capoeira em Nível de Treinamento Desportivo. O referido projeto funcionou e ainda funciona, como um dos mais belos exemplos de proposta pedagógica, tendo por base a história e a cultura do povo brasileiro.

 

O Mestre Zulu, é o responsável pela formação de diversos mestres, contramestres, instrutores e monitores, dentre eles: Mestre Odilon-ES, Mestre Íris-ES, Mestre Falcão-DF, Mestre Luiz Renato-DF, Mestre Onça-DF, Mestre Sardinha-DF, Mestre Abdi-DF, Mestre Dionízio-DF, Mestre Divino-DF, Mestre Abimar-DF, Mestre Marcelo Brandão-França e Mestre Gárclei-DF...... e mais, dezenas de Contramestres e Instrutores espalhados pelo mundo, os quais estão congregados nos Grupos Beribazu, N’Golo, Corpo e Mente, Cultura Capoeira e Odara Arte-Luta. Este último, o Grupo Odara, está em processo de fundação e consolidação pelos docentes e alunos do Centro Ideário de Capoeira, sendo acompanhado em suas atividades pelo próprio Mestre Zulu, durante os primeiros anos de funcionamento.

 

Trabalhos Publicados

Dentre os trabalhos mais relevantes publicados, estão: Capoeira: Arte, Folclore e Luta; Catira ou Cateretê; Pequeno Histórico da Capoeira; Sistema de Graduações de Capoeira; Metodologia do Ensino de Capoeira; Ritmos Afro-Brasileiro; Características Imutáveis da Capoeira; Cânticos de Capoeira; Regulamento de Competições de Capoeira; Regulamento Técnico Escolar de Capoeira; Regulamento do Centros de Aprendizagem de Capoeira (CAC`s); Depoimento Sobre o Ideário Beribazu de Capoeira; Capoeira Arte-Luta; Manifesto Evocativo da Capoeira e os Livros Idiopráxis Capoeira e Organização de Eventos.

 

Experiência em Pesquisa

O Mestre Zulu teve participação em pesquisas, relacionadas à Capoeira e áreas afins, juntamente com pesquisadores e estudiosos, nos seguintes temas apresentados em Grandes Rodas Brasileiras: Idealização e Formulação do Ideário Arte-Luta; Sistema de Graduações Referenciais da Capoeira;  (1979 – 4ª GRBC) Capoeira Folclore-Estilizado e Capoeira Desporto;  (1980 – 5ª GRBC) Avaliações em Competições de Capoeira;  (1981 – 6ª GRBC) Capoeira - Alimento da Alma Nacional;  (1983 – 8ª GRBC) O Fator Humano nas Organizações;  (1984 – 9ª GRBC) A Capoeira e a Questão do Negro;  (1985 – 10ª GRBC) A Dimensão Corporal da Capoeira na Estrutura de Classes;  (1986 – 11ª GRBC) Latência da Capoeira; (1987 – 12ª GRBC) Estudo da Nomenclatura da Capoeira;  (1988 – 13ª GRBC) A Capoeira e o Centenário da Abolição ;  (1989 – 14ª GRBC) As Questões Políticas da Capoeira.

 

Ideário Arte-Luta

Sabendo que o comportamento humano é construído numa interação homem, natureza e cultura, e que, quanto mais complexa seja esta interação, mais inteligente torna-se o ser humano. Assim sendo, o Mestre Zulu idealizou esse complexo temático, o Ideário Arte-Luta, para que os seus discípulos interagissem com ele e se tornassem cada vez mais inteligentes.

 

Dentro das perspectivas técnica, estética e lúdica, recorreram aos princípios funcionais, estruturais, espaciais e temporais de movimento, bem como aos princípios sensoriais, equalizacionais e posturais. Formulou a classificação dos golpes e movimentos agrupando-os segundo suas funções como movimentos: educativos, esquivantes, desequilibrantes, traumatizantes, acrobáticos, derivados, de manejos, de bloqueios, de projeções, de imobilizações e de chaves e torções. Na concepção do Ideário Arte-Luta adotou-se os movimentos que figuram nas seguintes classes: educativos, esquivantes, desequilibrantes, traumatizantes, acrobáticos e movimentos derivados. Não incluíndo as demais classes de movimentos, tendo em vista a busca pela maior consonância e pertinência possível com o evidenciado acervo e evolução da cultura motriz do negro, e também pelos indicativos históricos, selecionados, bem como pela inspirada e inspiradora definição de Dias Gomes. 

 

Vejamos o que se segue:

(...) luta de destreza (...) luta de derrubar por desequilíbrio, de golpear, de não segurar, na qual a defesa se baseia em esquivas (vide Idiopráxis p.25).

 

(...) uma coisa importante a ser observada é o comportamento do capoeira, onde os mesmos não se ligam uns aos outros e nem se arriam no chão. Apenas tocam o chão e a si mutuamente (vide Idiopráxis, p. 25)

 

(...) os golpes são característicos de luta “por aproximação”, em que os adversários não se atracam, mas guardando distância, livres, entram em contato apenas no momento exato do ataque e da defesa (vide Idiopráxis, p.25)

 

Capoeira é luta de bailarinos. É dança de gladiadores. É duelo de camaradas. É jogo, é disputa – simbiose perfeita de força e ritmo, poesia e agilidade. Única em que os movimentos são comandados pela música e pelo canto. A submissão da força ao ritmo. Da violência à melodia. A sublimação dos antagonismos (vide Idiopráxis, p.29).

 

Formas de Jogos Ideário

As formas de jogos são partes dos componentes do processo ensino-aprendizagem do Ideário Arte-Luta, com iniciação e aplicação seletiva de golpes, movimentos, andamentos e procedimentos atrativos, prazerosos e emulativos, que buscam o desenvolvimento psicomotor, a recreação, a ludicidade, a cooperação e a competitividade. As formas de jogos funcionam também como subsídios táticos complementares para os jogos e as competições de capoeira. As formas de jogos foram elaboradas para explorar a alternativa da influência mútua exercida entre os fatores psíquicos e somáticos, buscando aumentar o rendimento do capoeirista na preparação e na prática lúdico-esportiva ou de competição da capoeira.

 

1. Jogo Solitário – toque Idalina, andamento moderado. É uma forma de jogo no qual o capoeirista deve evidenciar: sua mobilidade articular; o controle do seu corpo no espaço; os efeitos estéticos dos golpes e movimentos; os efeitos de composições de deslocamentos, gestos e figuras; a racionalidade e a perfeição na execução dos golpes e movimentos; a matização de um conteúdo de energia, idéias e sentimentos.

 

2. Jogo Rasteiro – toque Santa Maria, andamento lento. É uma forma de jogo cujos golpes e movimentos foram desenvolvidos para serem executados com o corpo dos capoeiristas postado sobre os calcanhares ou cotovelos. Os golpes e movimentos são derivados daqueles ditos convencionais e executados sobre calcanhares e cotovelos, não permitindo aos capoeiristas elevarem seus corpos além de meia altura.

 

3. Jogo Formativo – toque Banguela, andamento moderado. É uma forma de jogo destinada à exploração: das qualidades físicas do capoeirista; dos efeitos estético-gestuais dos golpes e movimentos; das movimentações e dos deslocamentos esquivantes para formulações de defesas; evidenciação dos efeitos dos golpes desequilibrantes; e demonstração dos efeitos dos golpes traumatizantes, com moderação.

 

4. Jogo Alto-Ligeiro – toque Cavalaria, andamento rápido. É uma forma de jogo disciplinada pelo uso de golpes traumatizantes exclusivamente rotatórios, explorando ao máximo a amplitude articular na execução dos movimentos. Os golpes são executados alternadamente pelos adversários – a curtíssima distância – e as esquivas são realizadas com discreta flexão da coluna, sem ocorrer o rebaixamento do quadril. É recomendável a repetição quase simultânea de um mesmo golpe, pelos dois concorrentes. Os golpes devem ser executados com trajetórias de mesma direção, por algumas vezes, por ambos os concorrentes, sem que um atinja o outro.

 

5. Jogo Simulado – toque Amazonas, andamento moderado. É uma forma de jogo regulada por ações de desequilibrações e recuperações do equilíbrio pelos capoeiristas confrontantes. Cada capoeirista ataca seu confrontante, colocando-se ao dispor da ação de desequilibração e que imediatamente busca recuperar seu equilíbrio corporal, apurando assim as habilidades de derrubar e de evitar cair.

 

6. Jogo Competitivo – toque São Bento Grande Regional, andamento rápido. É uma forma de jogo que visa à obtenção de resultado, segundo critério de pontuação objetiva de parâmetros como: derrubada, desequilibração, expulsão, toque, afronto, falta.

 

7. Jogo da Pausa – toque Santa Maria Regional, andamento moderado. Forma de jogo caracterizada por interrupções dos jogos, comandados pelo toque Santa Maria Regional. Técnica e esteticamente esta forma de jogo é semelhante ao jogo formativo. Várias duplas jogam ao mesmo tempo, e simultaneamente com a interrupção do toque do berimbau, os capoeiristas formam uma imagem estática de um determinado momento do jogo.

 

8. Jogo Matreiro – toque Iúna, andamento moderado. Forma de jogo destinada exclusivamente aos capoeiristas formados. Os jogos devem acontecer praticamente sem ginga, e com movimentação moderada e constante. Os golpes traumatizantes devem ser desferidos com o mínimo de fintas e dentro do raio de ação do concorrente. Os jogos devem ser esteticamente ricos, porém sem saltos em sua acrobacia. Os confrontantes devem demonstrar autoconfiança e autodomínio emocional nas varias situações e circunstâncias dos jogos.

 

9. Jogo Contraste – Toque Odara, andamento moderado. É uma forma de jogo disciplinada pelo contraste ou oposição de posturas estéticas entre os oponentes. O jogo consiste na aplicação seletiva de golpes e movimentos de formas técnicas e táticas distintas para cada um dos capoeiristas concorrentes, evidenciando os efeitos funcionais dos golpes e movimentos esquivantes, desequilibrantes e traumatizantes. O jogo é dividido em dois momentos: no primeiro momento do jogo um dos concorrentes jogará aplicando golpes sem tocar as mãos no solo; e o outro concorrente só poderá aplicar golpes com o apoio de uma ou das duas mãos no solo; no segundo momento do jogo invertem-se os papeis dos capoeiristas concorrentes.

 

10. Jogos Emulativos – Segundo o Ideário Arte-Luta as rodas são realizadas em três andamentos, a saber: andamento lento, toque Angola; andamento moderado, toque São Bento Pequeno; andamento rápido, toque São Bento Grande.

 

O primeiro andamento é reservado às Rodas Internas do Ideário. Neste andamento os jogos emulativos devem ser lentos e maliciosos, com ênfase na brincadeira e na vadiação. Devem ser ricos esteticamente, porém sem saltos em suas acrobacias. O andamento lento determina ainda o início da Roda Aberta, realizada nos moldes Ideário. Neste caso a polifonia é usada como prelúdio para dar início aos jogos do segundo andamento.

 

No segundo andamento os jogos emulativos devem ter cadência intermediária, buscando-se o equilíbrio entre as emulações, as acrobacias e as qualidades funcionais dos movimentos, onde se permite os saltos moderadamente e de forma harmoniosa.

 

No terceiro andamento os jogos emulativos devem ter cadência rápida e o capoeirista deve expressar equilíbrio e harmonia entre expressão corporal e eficiência combativa. Além disso, deve-se manifestar o autodomínio emocional nas adversidades dos jogos.

 

Por fim, na formulação do Ideário Arte-Luta optou-se por uma prática corporal formada pela conjunção da dimensão gesto-musicultural com as qualidades físicas. Essa integração se expressa pela movimentação constante na consecução de quedas por desequilíbrios, de traumatismos por impactos, de defesas por esquivas, da plasticidade pelo estilo e da transcendência pela polifonia. (Este texto é reescrito a partir de trechos extraídos do livro Idiopráxis de Capoeira de autoria do Mestre Zulu, publicado em 1995.)

 

Paragens na Docência de Capoeira:

1 - Clube Sodeso em Sobradinho - março de 1970 a dezembro de 1971. 2 - Colégio Agrícola de Brasília em Planaltina - agosto de 1972 a setembro de 1992, com um hiato entre 1987 e 1990. 3 - Academia Ideário e Academia Quorum na Asa Norte - outubro de 1979 a fevereiro de 1991. 4 - Centro Educacional 02 em Planaltina - março de 1982 a julho de 1993. 5 - Centro Inter-escolar de Educação Física na Asa Sul - abril de 1985 a fevereiro de 1991. 6 - Entre o Galpão João de Barro e a Quadra Coberta da Igreja Cristã Evangélica em Sobradinho - março de 1994 até maio de 2010.

 

As paragens na docência de capoeira de Mestre Zulu completaram, em março de 2010, efetivos quarenta anos no magistério da capoeira. Chega o momento de interromper o ensino sistemático diário. Ao completar 40 anos de dedicação ao magistério de capoeira e de dedicação ao Ideário Arte-Luta, Zulu torna público, através de uma publicação na rede internet, a decisão de findar o ensino da capoeira, ministrado diretamente, mediante o apoio dos docentes e alunos do Centro Ideário. Encerra a atividade de ensino regular de capoeira em 23 de maio do referido ano, porém continuará no meio capoeirístico com o suporte e apoio de muitos daqueles que se formaram sob a égide do Ideário Arte-Luta.

 

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_Zulu

MESTRE ZULU

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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